Inspiro....
Deixo o ar entrar lentamente e preencher cada pedaço de mim...deixo a mente fluir, tranquilizar, flutuar e encher-se novamente de pensamentos que me levam longe, para outros locais onde me senti feliz....Penso no mar, nessa massa de àgua imensa, carregada de emoções que liberta um canto suave, como um lamento que vai suavizando minha mente.
As ideias e os acontecimentos dos ultimos dias começam a formar pequenos cubos na minha mente, que lentamente vão ganhando forma e se encaixando no meu intimo. Penso no que significam e tento perceber a mensagem de cada um...
Através dos outros estamos sempre a aprender, sem dúvida que isso é um facto, é bom percebermos o que os outros pensam acerca de nós, a visão que têm de nós, é bom pois nos ajudam a corrigir falhas, descobrir caminhos, achar saídas e também perceber que somos o que somos e não queremos mudar.
Hoje percebi que sou como sou! Não vale a pena ir contra a maré e tentar refrear...sou o que sou e nada mais! Não escondo, não finjo, não minto, não me fico por meias palavras! Apenas sou...
Sou vento, grão de areia, pedra escura e fria, sou fogo que arde e queima, ferida que magoa, trigo que nasce e faz dourar os campos a perder de vista. Apenas sou...
Cedo percebi aquilo que me distinguia dos outros. É dificil ter essa consciência desde miúdos, que se é diferente, que se pensa diferente, que para nós os limites são inexistentes. Apesar de parecer aprisionada a uma rotina a uma vida, a mente não se deixa aprisionar, voa, expande-se, enriquece, e deixa-se crescer em busca de algo inalcancável...
Talvez por isso discorde da maioria das pessoas, talvez por isso tenha ideias tão diferentes, tão radicais até...Observo, analiso, critico, investigo, leio, procuro sempre saber mais!
Talvez por isso escandalize muita gente com a minha opinião, com a minha escrita, talvez aos olhos dos outros eu não passe de alguém patético, infeliz, amarga, que vi a vida com lentes cinzentas e sem cor. E sim sou isso tudo quando tenho que ser, sou isso tudo quando me apetece ser e sou muito mais...
Mas páro para reflectir, dou-me a liberdade de sonhar, de ser utopica, de ver descer o sol numa tarde de primavera e ao sabor do lusco fusco escrever o que me vem a cabeça. Aproveito um arco-iris como se fosse a ultima vez que o visse, sorrio, corro como uma criança, faço uma festa ao encontrar uma joaninha que acaba de pousar no parapeito da janela, rindo canto-lhe a velha lengalenga de menina: "joaninha voa voa...joaninha voa voa". Compro um bilhete de cinema sento-me sozinha na sala vazia e deixo-me emocionar por cada frame impresso na tela, faço as malas e viajo a meu belo prazer permito-me descobrir o mundo e as diferenças que ele tem. Emociono-me com o fado ao descer o chiado, a lágrima fica pendurada, teimosa, marota...atravesso o rio com um sorriso de orelha a orelha pela vista mágnifica, ajudo a senhora cega a chegar ao autocarro ou a jovem mãe carregada de coisas e com o filho pequenito nos braços, sorrio aos vizinhos ao ve-los passar por mim, enquanto vou dando dois dedos de conversa. Beijo as miudas pequenitas cá do prédio que assim que me vêem fazem-me uma festa de todo o tamanho, pergunto-lhe pela floribella e pelos morangos com açucar e elas deliciam-se a contar-me por instantes as suas aventuras...
Dedico-me à familia, entristece-me algumas coisas, mas o amor que lhes tenho é maior, eles sim são o meu motivo de celebração, pela vida, pela união, pelo amor, pelo entendimento. Alinho nas viagens malucas com os meus pais, viajamos sem destino até decidirmos parar, os jantarzinhos engraçados experimentado novas iguarias, um abraço de um primo que ainda a semana passada vimos, mas que já temos saudades, um carinho, as conversas à volta da lareira, o campo, o canto dos passaros pela manhã, a orvalhada na janela, a neve da serra da estrela, beber um copito a mais e ficar alegre e todos rirem com isso...
A verdadeira celebração está na simplicidade, está nas pequenas coisas, nos pequenos gestos...O amor também!
O amor está num sorriso de cumplicidade, está numa amizade profunda. Ama-se porque se ama, não se explica, não se transmite, não se quantifica. Amo porque sinto verdadeiramente esse amor, não por aquilo que essa pessoa me possa dar ou proporcionar. Manifesto o meu amor sem barreiras, sem medo de o dizer seja a quem for, respeito os momentos, apoio nos bons e nos maus, dou carinho, atenção, mimos...
E posso ser tanto confiante como insegura, ter os meus dias mais cor de rosa ou outros mais cinzentos, mas dou graças a Deus e ao Universo por cada dádiva, por cada momento e não preciso de celebrações ou dias instituídos para o fazer...porque afinal tem um gosto muito melhor uma troca de mimos no calor da noite, uma abraço de uma criança quando não se está à espera, um carinho da mãe num dia qualquer, uma palavra de conforto do pai quando sabiamos que o mais certo era uma reprimenda, ou uma sms de uma amigo/a que já não se fala a muito tempo, do que um dia para celebrar as "pequenas grandes coisas"
E sim sou esquezita, e sim sou radical, e sim sou 8 ou 80 e sim já fui muito infeliz no amor, tenho os meus dias cinzentos, tenho opiniões patéticas sobre determinadas coisas da sociedade...mas por certo existem coisas pequenas a que eu chamo grandes e que a maior parte das pessoas passa a vida a ignorar...